
Um apartamento de 390 metros quadrados nos Jardins, em São Paulo, pé-direito alto, generosas vidraças que vão do teto ao chão e uma decoração colorida, curiosa, um mélange de peças das décadas de 50, 60 e 70, e alguns outros achados mais antigos. Um espaço pensado para receber amigos e família, e que fosse a cara do dono que, por uma fatalidade do destino, nunca pôde ver seu desejo realizado. Rafael Quintino era fotógrafo dos mais renomados e um dos donos da loja Dbox, marca descolex de design onde o novo, o antigo, o customizado e o personalizado conviviam com graça e estilo.
Projeto aprovado, obras iniciadas e paradas após o acidente que culminou com sua passagem, e o arquiteto e designer de interiores Francisco Cálio foi procurado pela mãe do fotógrafo que queria seguir com os planos. Era uma homenagem póstuma que gostaria de prestar ao filho. Mas essa senhora queria mais. Desejava ver o apartamento decorado com a mesma mistura divertida que ele tanto gostava.
Responsável pelo interior da Dbox, Cálio era mais um amigo do que um arquiteto para Quintino, que o desafiou a transformar um apartamento antigo em um loft moderno e iluminado. Procurando seguir a estética dos anos 60/70 do edifício revestido de pastilhas, Cálio manteve a parte aproveitável do piso de taco em forma de cubos e completou o chão com Resinfloor, piso de resina autonivelante. Depois foi a vez de algumas paredes irem ao chão: incorporou um dos quartos ao living, que poderia servir de escritório; e levou uma cozinha gourmet Bontempo para junto da sala, com fogão embutido e geladeira vintage pintada de amarelo.
Uma longa bancada de concreto, com várias funções, percorre todos os ambientes e termina (ou começa?) na mesa de jantar de laca preta e amarela e cadeiras Bertoia. Duas luminárias, desenhadas por Marcelo Rosenbaum, que remetem às dobraduras japonesas, pendem do teto para iluminar essa parte do espaço. No living quase clean, essa bancada tem a função de apoio para quadros e fotografias, alguns do Gabinete D. Aqui a iluminação foi montada em um varão, com os spots apontados para as peças de maior relevância.
“Decorar esse apartamento foi uma experiência fantástica. Dos depósitos da Dbox surgiram peças e mais peças das décadas de 50, 60 e 70, que são a minha paixão. E também eram do Rafael”, conta o arquiteto que sempre colocou um objeto setentinha em seus projetos. “O Rafael era acumulador. Ia comprando o que gostava sem preocupação. Do depósito da Dbox saíram cadeiras de Sergio Rodrigues, como a poltrona Mole, peças desenhadas por Karim Rashid, mesas Saarinen, poltrona Ovo desenhada por Arne Jacobsen, entre dezenas de outras estrelas do design nacional e internacional.” Era com esse mobiliário que o fotógrafo queria povoar seu apartamento. “Fiz uma mistura fina entre a arquitetura e a decoração e o resultado foi muito feliz e alegre”, explica o designer de interiores que usou tapetes coloridos da By Kamy, mobiliário da Oficina Inglesa, algumas peças da Dunélli House, outras desenhadas por Cálio, e iluminação da Lumini e Classic para completar sua obra. “Gosto de imaginar que Rafael teria gostado de morar aqui.” Realizado o desejo da mãe do fotógrafo que se emocionou com o resultado, o apartamento foi desmontado e o acervo de Rafael Quintino, possivelmente, irá a leilão. “Ele tinha peças excelentes”, conclui Cálio.