
Sorte do solteiro de 36 anos que convidou o arquiteto Rodrigo Fagá para projetar essa casa excepcional, onde agora mora feliz da vida no bairro de Ilha de Santa Rita, às margens da Lagoa Mundaú, perto da Praia do Francês, a minutos de Maceió. Seu conceito contemporâneo me faz pensar na Villa Arpel, projeto do artista plástico Jacques Lagrange e tema do cultuado “Mon Oncle” (1958), de Jacques Tati, gênio do cinema francês, que curioso algum deveria deixar de assistir. Nos anos 1950, a casa futurista do filme surpreende o personagem Monsieur Hulot, encarnado pelo próprio Tati. Hoje, quem viu essa obra-prima da cinematografia sabe que aquelas invencionices futuristas agora fazem parte do nosso day by day de família Jetson.
A residência de oitocentos metros quadrados construídos se destaca pela majestade da escala distribuída em quatro pavimentos, incluindo subsolo. O último piso, ocupado só pela suíte máster, é servido por um elevador panorâmico e uma escada helicoidal em ferro, design de Fagá, que lembra uma escultura do basco Chillida. “O proprietário sonhava ter uma área social com altura imponente e todos os ambientes voltados para a vista”, explica o paulista de 36 anos, fã de Niemeyer, que desde 1992 vive na capital alagoana, onde ganhou diploma de arquiteto, respeito profissional, liberdade para criar e o coração da amada com quem terá o primogênito em dezembro.
O minimalismo monumental da fachada principal de nove metros de altura é dado pelo pano de vidro e o painel cinético de igual altura e cinco metros de largura, onde se encontra a porta de entrada. “O painel foi esculpido, recebeu camadas de fibra de vidro moldada e pintura automotiva na cor branco fosco, o que dá essa sensação de relevos e movimento”, explica Fagá sobre a obra coproduzida com o artista plástico alagoano Reinaldo Lessa, autor da escultura branca no saguão do Aeroporto Internacional de Maceió.
Na área social, a piscina em “L” tem parte da extensão coberta e aquecida, para depois contornar todo o perímetro do terraço e da varanda. Sobre o piso alvo apenas mobiliário contemporâneo com ênfase no design nacional, como o mobiliário premiado do catarinense Jader Andrade, a mesa em tronco natural da Terra Brasil e o tapete da marca gaúcha Minuano Salvatore, que parece uma obra concretista, além do sofá Otto, de Guilherme Torres. Porém o fruto da criatividade alagoana também seduz o olhar como a cadeira Raiz da comunidade de artesãos da Ilha do Ferro e a luminária Cobra Grande, do designer Rona Silva, premiada pela Casa Brasil 2013 e finalista do Museu da Casa Brasileira em 2014. Ela é feita a partir do reaproveitamento de tampas de embalagens plásticas e de esferas de desodorante roll-on, fornecidas por associações de catadores de resíduos sólidos da cidade de Maceió. E quem é o sortudo proprietário? O Gustavo Malta, conhecido como Guga. Não é difícil ser feliz por ali.