
Foi sentada no chão do apartamento recém-adquirido pelo amigo, um empresário jovem, solteiro e de sucesso como ela, que a arquiteta Paloma Yamagata (em parceria com seu sócio Bruno Rangel) rabiscou sobre a planta as primeiras ideias para a reforma geral do apê dele, agora no papel de cliente. “Ele é ligado em arquitetura e design desde pequeno. Decidiu morar na Lagoa, comprou o apê e me convidou”, resume a profissional de família do ramo de engenharia, que se esgueirou da tradição ao optar pela arquitetura no Mackenzie, em São Paulo. Nascida em Niterói, ela capitaneia, desde 2003, escritórios nas duas cidades. Atualmente, o time de quatorze assistentes da Yamagata Arquitetura projeta corporativos, lançamentos imobiliários e residenciais.
A antiga planta de 250 metros quadrados no 5º andar lucrou – e muito – com a integração do social, agora ocupando 60% do espaço. O restante ficou reservado a duas suítes, cozinha americana, adega/louçaria e serviço. No décor, a arquiteta teve o apoio do grande produtor visual Aldi Flosi, também arquiteto, e set designer que foi responsável pelas reportagens visuais de boa parte das revistas bacanas de décor nos últimos anos. O living se abre para a Lagoa Rodrigo de Freitas através da varanda, que emoldura um dos cartões-postais cariocas. Retirado o velho assoalho, o travertino romano bruto por todo o piso tem tudo a ver com o Rio. O feeling geral é uma feliz fórmula de descontração com curadoria.
A coleção de arte é um capítulo à parte, desde modernos como Volpi, um Palatnik fantástico e o venezuelano cinético Cruz-Diez, a talentos Kaza atuais como Miguel Rio Branco, Vik Muniz e a portuguesa Joana Vasconcelos. No living, dois ícones internacionais, o couch récamier Barcelona (1930), de Van Der Rohe, e a luminária Tolomeo Mega (1987), da dupla Fassina e De Lucchi para Artemide. Na área do jantar, destaque para um conjunto herdado da fazenda da família do dono do apê. São as oito cadeiras Cantu de espaldar alto de Sergio Rodrigues, nome que traz lembranças à arquiteta. “Convivi desde pequena com a poltrona Mole, a cadeira Lucio e a poltrona Oscar na casa da minha avó paterna”, revela. Na varanda, entre o par de chaises em linho da Cassina, a mesa cubo revestida de azulejos Costa, na sala, o charme do baú Louis Vuitton com as marcas do tempo, que os franceses definem como “dans son jus.”
Papo vai, papo vem, terminamos na cozinha aberta devidamente equipada com armários em laca fosca Ornare, bancada Corian, cuba e metais Mekal, sentadas cada qual em uma Hal chair, série esperta de 2010 do inglês Jasper Morrison, inspirada na original criada por Charles Eames nos anos 50, ambas produzidas – original e sua inspiração contemporânea – pelo know-how da manufatura suíça Vitra. Como adoro comida japonesa, pergunto o que ela sabe fazer. “Faço um ótimo sukiyaki!”. E quais marcas de saquê prefere? “Na verdade, gosto mesmo de um bom champanhe, você quer?”. E brindamos ao pôr do sol carioca nesse baita apê de solteiro! Tim-tim!