
Implantada sobre um platô com volumes minimalistas em balanço, a casa sede de um haras no interior das Gerais, que acaba de sair dos croquis de Roberto Migotto, destaca-se como o maior trabalho da carreira do arquiteto. Um projeto absolutamente compatível com a expertise de suas três décadas de atuação
O desejo de realizar seu sonho de menino de Taubaté com gana de conquistar São Paulo no ofício de projetar levou o arquiteto Roberto Migotto ao pódio da arquitetura contemporânea brasileira. “Quando garoto, como eu morava em área rural, a cidade, a metrópole me atraíam. Desde criança, gostava de desenhar cidades. Nasci com alma de arquiteto e fui em busca do meu sonho. O sucesso chegou por meio de muito foco e muita dedicação”, conta o nome estelar há três décadas, que terá mais um momento de realização profissional com o lançamento de seu livro, em 2016. E aconselha aos futuros arquitetos: “Desenvolva seu estilo, crie sua marca, sem perder a ética e o respeito.”
Por isso mesmo o projeto dessa casa, sede de um haras de cavalos árabes no interior de Minas, é tão significativo em sua carreira. Além de ser o maior já realizado com sua assinatura e ter absorvido uma equipe de seis arquitetos durante os quatro anos que levaram à sua finalização, simbolicamente também é uma volta às raízes por estar em meio a uma fazenda. Na essência, sua arquitetura contemporânea é uma reverência com sabor tropical ao legado modernista de Mies van der Rohe, Le Corbusier, Walter Gropius e Frank Lloyd Wright, que revolucionaram o conceito de habitar do século 20.
Com paisagismo de Luiz Carlos Orsini baseado na família das palmeiras, a casa implantada sobre um platô apresenta escala grandiosa. Generosamente distribuída em volumes minimalistas em balanço, a impressão que se tem é que ela flutua sobre os espelhos d’água e as duas piscinas em seu entorno. “Esse cuidado se justifica pela intensidade do calor na região”, explica Migotto sobre o recurso de resfriamento, fundamental à sustentabilidade desse projeto eco-friendly, totalmente automatizado, com resgate de águas pluviais e teto provido de placas solares.
No interior, o clima é de elegante despojamento. Os espaços são amplos, interligados, governados pela simetria e todos possuem vista para o exterior. Com soberania dos neutros, aqui o salvo-conduto é o bom gosto, o DNA é a discrição. Não há mediação de estilos. A decoração é 100% contemporânea, desprovida de qualquer excesso, quase inteiramente toda composta por grandes marcas de design italiano. “Mas todos os fornecedores da obra são empresas brasileiras”, revela orgulhoso. No centro do projeto, o foco de todas as atenções é a escada helicoidal conceituada na transparência e na leveza do vidro. Sem dúvida, é o elemento escultural superlativo que certifica o savoir faire desse mestre da nossa arquitetura.